Você pode ouvir a coluna Revolução, da rádio Band New FM, na barra de áudio abaixo:

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As mudanças ocorridas com a Revolução Industrial afetaram profundamente a sociedade europeia entre os séculos XVIII e XIX. Uma dentre várias inovações que surgiram neste momento histórico foram as especializações. Agora, cada indivíduo produzia e/ou pesquisava uma determinada parte do todo, não mais a ciência inteira – até então, cientistas e artistas eram praticamente as mesmas pessoas, basta lembrar das inúmeras invenções e obras artísticas de Leonardo da Vinci e tantos outros que se dedicavam a várias áreas do saber humano.

Contudo, passou a ser necessário que os homens se especializassem em um determinado campo, uma vez que a complexidade e extensão deste se tornavam cada vez mais proeminentes. O sociólogo Émile Durkheim, em seu livro “Da Divisão do Trabalho Social“, diz: “Já não achamos que o dever exclusivo do homem seja realizar em si as qualidades do homem em geral; mas cremos que, nada obstante, ele é obrigado a ter as de sua função. Um fato entre outros torna sensível esse estado da opinião; é o caráter cada vez mais especial que a educação adquire. Cada vez mais, julgamos necessário não submeter todas as nossas crianças a uma cultura uniforme, como se devessem levar todas a mesma vida, mas formá-las de maneira diferente, tendo em vista as diferentes funções que serão chamadas a preencher”.

E tem sido assim desde então. Mas, ao que tudo indica, parece que os inovadores da era digital, também conhecidos como Creators ou Makers, precisarão ter habilidades em diversos campos, seja nas ciências exatas, humanidades e arte. Tudo está conectado, por isso não faz sentido ter uma única especialização se o indivíduo não conseguir ter uma visão abrangente daquilo que produz.

Na coluna dessa semana, falamos um pouco sobre a Ciberarte e o que ela representa em forma de iniciativas que vêm pipocando aqui e ali. A união da ciência e da arte faz sentido quando precisamos encantar um grande público por meio de tecnologia e inspiração – que é o que Inteligência Artificial e Realidade Virtual tem mostrado a nós.

O TeamLab é um grupo interdisciplinar de Tóquio com cientistas de ponta que misturam arte, tecnologia, design e o mundo natural. Um dos últimos projetos foi o Crystal Universe: Living Digital Space and Future Parks, que é basicamente um corredor com uma instalação cheia de luzes que brilham conforme a pessoa caminha pelo local. Os visitantes também podem interagir com o trabalho usando seus smartphones. Veja o vídeo abaixo:

Crystal Universe / teamLab: Living Digital Space and Future Parks from teamLab on Vimeo.

Outra exposição que brinca com os olhos e mistura inovação e belas artes é a XYZT (“X” referindo-se à horizontal, “Y” vertical, “Z” profundidade e “T” tempo). Formas geométricas e orgânicas misturam-se nesta imersão num mundo irreal, onde o toque pode alterar a forma da arte e os visitantes interagem constantemente com a obra.

XYZT 1minute from Adrien M / Claire B on Vimeo.

O Cirque du Soleil é conhecido mundialmente por suas apresentações que misturam arte e tecnologia como nenhum outro espetáculo. Na apresentação de “O”, os bailarinos, contorcionistas e malabaristas de fogo adentram numa piscina de 25 metros de profundidade e realizam as mais incríveis performances no palco e na água.

O espetáculo “Pixel” é outro show à parte. Com 11 dançarinos embalados num ambiente virtual, os espectadores imergem num mundo de ilusão que combina poesia, energia, ficção, hip hop, circo e normas técnicas. Os nomes por trás do show são Adrien M., Claire B e Mourad Merzouki. Veja o vídeo:

Pixel – extraits from Adrien M / Claire B on Vimeo.

Simbolizando a transferência da revolução industrial para revolução criativa, o museu Tate Modern, baseado em Londres, era uma antiga estação elétrica construída logo após a Segunda Guerra Mundial e mantida até 1981. Em 1995, os arquitetos suíços Herzog e De Meuron ganharam uma competição para reformar o local, que foi oficialmente reaberto alguns anos depois. Os idealizadores decidiram reinventar a construção ao invés de demoli-la, fazendo dela uma insígnia dos modelos das fábricas do século XX. Hoje, o local abriga a coleção de arte britânica de desde 1500 até o presente, com exposições importantes de arte moderna e contemporânea.

Veja abaixo a reportagem especial que a BBC dedicou ao museu:



A arte serve para chocar e mostrar um lado que até então não foi mostrado, e a ciência serve para fundamentar a razão das coisas existirem e mostrar que o impossível é, às vezes, possível. O problema é que, muitas vezes, os homens não compreendem a importância da mudança, mesmo se estão a um passo à frente dela. Foi o que aconteceu com o quadro “As Senhoritas de Avignon” (1907), do pintor Pablo Picasso, que levou nove meses para ser finalizado.

Diversos intelectuais, amigos do autor e potenciais compradores acharam o quadro inacabado, de qualidade questionável e não apoiaram o estilo empregado pelo artista. Hoje em dia, a obra é uma das mais famosas dentre os quadros cubistas, pois entendeu-se a grande ruptura com a arte vigente que Picasso empregou nela, tais como enaltecer a forma ao invés da luz e banimento de indefinições.

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Para finalizar, o dinamarquês Olafur Eliasson, famoso por suas instalações de arte, principalmente o The Weather Project, no qual recriou um enorme sol artificial no museu Tate Modern, comentou a The Wired que “hoje em dia, a arte tem um grande potencial de mudança no mundo ao melhorar a vida das pessoas, pois isso faz nutrir um degrau de confiança. É importante notar que enquanto política, negócios e finanças estão perdendo a confiança das pessoas, os artistas estão retendo-a. Cultura tem os mais altos níveis de confiança do que qualquer setor econômico. E isso pode trazer não só potencial para sentimentos, como também de ação”.

Eliasson está envolvido em diversos projetos além dos já citados. Entre eles, está a peça de dança moderna “Tree of Codes”, um projeto de transportar gelo da Groenlândia para Paris e uma startup focada no desenvolvimento de lâmpadas solares. Ele também se envolve em diversas ações na África, principalmente na Etiópia. Veja sua palestra do TED:

Fontes:

Pace Gallery | Wired

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