Ouça a coluna Revolução, da rádio BandNews FM, na barra abaixo:
O mundo inteiro em convulsão! O muro ficou muito alto para você ficar em cima dele.
O mundo em rede nos leva a vetores de criações e fontes de inovações globais e ameaças universais como crises financeiras, ataques terroristas, doenças globais. No mundo digital, os nós são feitos em relações de interatividade e autonomia.
Para entender os fenômenos da era digital, estude velhos fenômenos sociais como a Dançomania, contágio emocional, empatia coletiva, epidemia da dança do século XVI. Já são 82 países. Onde há poder, tem também contrapoder.
Eu, que chorei no ombro dos meus pais no comício das Diretas já no Vale do Anhangabaú, caminhei sem entender muito o que realmente acontecia nos Caras Pintadas. Este é o Estado de crise de Zygmunt Bauman, onde os governos estão cada vez mais impotentes para os problemas globais e os cidadãos cada vez mais insatisfeitos com seus governantes, é o Inicio da Sociedade Líquida.
Começou na Moldávia (um país do Leste Europeu): as eleições foram fraudadas e jovens se organizaram pelo Facebook e milhares foram às ruas pedir recontagem… E conseguiram! Há também a Revolução Verde no Irã, onde milhões de pessoas mudaram sua nacionalidade para iraniano com o intuito de confundir o governo ditador.
A Primavera Árabe: “Eles podem desligar nossos computadores e celulares, mas não desligaram nossas mentes”.
Um grupo de 10 diretores egípcios juntou-se numa campanha de crowdfunding para a produção do documentário “18 Dias”, no qual são apresentados registros dos movimentos sociais que aconteceram no país durante a revolução de 2011.
Começou em 2011, nos EUA, o Movimento Occupy Wall Street, inspirado nas insurgências árabes tunisianas e egípcias. Multidões tomaram uma das principais avenidas do centro financeiro norte-americano de Manhattan para protestar contra a desigualdade econômica e social, uma vez que o poder por parte dos bancos bilionários e corporações multinacionais tem enorme força política.
A Espanha presenciou, como em outros países, protestos políticos em 2011 com o chamado Movimento dos Indignados – também conhecido como 15-M. Os cidadãos estavam indignados com a falta de representatividade do governo e foram às ruas. Contudo, conforme o processo se desenvolveu, pautas diferentes começaram a surgir, ressaltando a heterogeneidade das manifestações.
Na Grécia, em 2010, já surgia um movimento que pretendia abalar as estruturas políticas do país. As manifestações emergiram num momento complicado da história econômica grega: o déficit orçamentário. Com tantas dívidas, o governo resolveu implantar medidas de austeridade, cortando gastos públicos e elevando taxas. Contudo, a prática não foi aceita pela população no geral, que acabou partindo para as ruas.
Ucrânia em Chamas. A bipolaridade do discurso político dividiu os manifestações em pró-União Europeia e pró-Rússia. O ultranacionalismo ganhou força tremenda no atos cometidos em 2013.
Venezuela pede ajuda.
Aqui no Brasil. Desde Junho de 2013 algo novo aconteceu.
E faço um paralelo com o livro ‘O Precariado’, de Guy Standing, que defende a ideia de uma classe emergente composta por pessoas que levam uma vida de insegurança, invadem as ruas e pedem mudanças urgentes.
Lendo este livro fantástico, faço um paralelo também com o que acontece no Brasil, Venezuela, Ucrânia, Tailândia e que promete varrer as velhas instituições e dogmas. Como disse Moisés Naim, do Banco Mundial, “o Poder está cada vez mais fraco, transitório e restrito. O Poder está em degradação”.
Na tragédia de Bataclan em Paris, começou o movimento #PortaAberta. O intuito era acolher temporariamente quem não conseguia voltar para casa devido às medidas de segurança implementadas após os atentados, que incluíram a interrupção de serviços de transporte público e o bloqueio de ruas.
A Revolução dos Guarda-Chuvas, em português, representa o contraste no uso da força: de um lado a polícia com todo o equipamento de choque, e do outro, indivíduos munidos apenas de um objeto frágil. O Governo Chinês voltou atrás. Não há mais espaço para autoritarismo.
Eclosão simultânea e contagiosa de movimentos sociais, mobilizações e protestos sociais tomou a dimensão de um movimento global.
Começou no norte da África, derrubando ditaduras na Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen; estendeu-se à Europa, Espanha e Grécia e revolta nos subúrbios de Londres; eclodiu no Chile e ocupou Wall Street, nos EUA, alcançando no final do ano até mesmo a Rússia. A Islândia é uma democracia, não um sistema financeiro.
Sincronia cosmopolita febril e viral.
Liberdades democráticas. Comunicação pela internet. Destruição criadora.
Perderam tudo menos a dignidade.
“Um mapa do mundo que não inclua Utopia não merece ser olhado”, escreveu Oscar Wilde, desafiando governantes com humor, brio e entusiasmo e às vezes violência.
Redes de Indignação e Esperança
Num mundo turvado por aflição econômica, cinismo político, vazio cultural e desesperança pessoal, aquilo apenas aconteceu. Subitamente, ditaduras podiam ser derrubadas pelas mãos desarmadas do povo, mesmo que essas mãos estivessem ensanguentadas pelo sacrifício dos que tombaram. Os mágicos das finanças passaram de objetos de inveja pública a alvos de desprezo universal. Políticos viram-se expostos como corruptos e mentirosos. Governos foram denunciados. A mídia se tornou suspeita. A confiança desvaneceu-se. E a confiança é o que aglutina a sociedade, o mercado e as instituições. Sem confiança nada funciona. E sua união os ajudou a superar o medo.
Da segurança do ciberespaço, pessoas de todas as idades e condições passaram a ocupar o espaço público, num encontro às cegas entre si e com o destino que desejavam forjar, ao reivindicar seu direito de fazer história, numa manifestação da autoconsciência que sempre caracterizou os grandes movimentos sociais. A humilhação provocada pelo cinismo e pela arrogância das pessoas no poder, seja ele financeiro, político ou cultural, que uniu aqueles que transformaram medo em indignação, e indignação em esperança de uma humanidade melhor.
Em Israel, um movimento espontâneo com múltiplas demandas tornou-se a maior mobilização de base da história do país, obtendo a satisfação de muitas de suas reivindicações. 951 cidades de 82 países. Comunicação é o processo de compartilhar significado pela troca de informações digitalizadas pela vizinhança ou pelo mundo. É autocomunicação porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes de comunicação é autosselecionada.
A comunicação de massa baseia-se em redes horizontais de comunicação interativa que, geralmente, são difíceis de controlar por parte de governos ou empresas. Além disso, a comunicação digital é multimodal e permite a referência constante a um hipertexto global de informações cujos componentes podem ser remixados pelo ator que comunica segundo projetos de comunicação específicos. A autocomunicação de massa fornece a plataforma tecnológica para a construção da autonomia do ator social, seja ele individual ou coletivo, em relação às instituições da sociedade.
Outros links: #OccupyWallStreet na mídia digital | Escolas ocupadas em SP
É por isso que os governos têm medo da internet, e é por isso que as grandes empresas têm com ela uma relação de amor e ódio e tentam obter lucros com ela, ao mesmo tempo em que limitam seu potencial de liberdade (por exemplo, controlando o compartilhamento de arquivos ou as redes com fonte aberta). Matérias-primas de seu sofrimento, suas lágrimas, seus sonhos e esperanças. Eles criam uma comunidade, e a comunidade se baseia na proximidade.
Barricadas erigidas. Dentro e fora. Nós versus eles. Os espaços ocupados não carecem de significado: são geralmente carregados do poder simbólico de invadir áreas do poder de Estado ou de instituições financeiras. Construindo uma comunidade livre num espaço simbólico. Mas o big bang de um movimento social começa quando a emoção se transforma em ação. Segundo teoria da inteligência afetiva, as emoções mais relevantes para a mobilização social e o comportamento político são o medo (um afeto negativo) e o entusiasmo (um afeto positivo). Aproximação e evitação. Para que as redes de contrapoder prevaleçam sobre as redes de poder embutidas na organização da sociedade, elas têm de reprogramar a organização política, a economia, a cultura ou qualquer dimensão que pretendem mudar, introduzindo nos programas das instituições, assim como em suas próprias vidas, outras instruções, incluindo, em algumas versões utópicas, a regra de não criar regras sobre coisa alguma. Redes pró-democracia e redes pela justiça econômica, redes voltadas para os direitos das mulheres, a conservação ambiental, a paz, a liberdade e assim por diante.
O que aprendi a fazer por toda a minha vida foi investigar processos de transformação social, na esperança de que essa pesquisa possa contribuir para a tarefa dos que lutam, correndo grandes riscos, por um mundo em que gostaríamos de viver. “ Nós derrubamos o muro do medo, você derrubou o muro de nossa casa, nós vamos reconstruir nossos lares, mas você nunca vai erguer aquele muro do medo”. No contexto das seis emoções básicas identificadas por neuropsicólogos (medo, aversão, surpresa, tristeza, felicidade e raiva), a teoria da inteligência afetiva em comunicação política argumenta que o gatilho é a raiva, e o repressor, o medo. Então a raiva assume o controle, levando ao comportamento de assumir riscos.
O espaço da autonomia é a nova forma espacial dos movimentos sociais em rede. As redes horizontais, multimodais, tanto na internet quanto no espaço urbano, criam companheirismo. Projetam uma nova utopia de democracia em rede baseada em comunidades locais e virtuais em interação. Elas comungam de uma cultura específica, a cultura da autonomia, a matriz cultural básica das sociedades contemporâneas, a transição da individualidade para a autonomia.
Michael Willmott, do World Values Surve, analisou 35 mil respostas individuais entre 2005 e 2007. O estudo mostra que o uso da internet qualifica as pessoas, ao reforçar seus sentimentos de segurança, liberdade pessoal e influência – todos com efeito positivo sobre o bem-estar pessoal. O efeito é particularmente positivo para indivíduos com baixa renda e pouca qualificação, habitantes do mundo em desenvolvimento e mulheres. Aprovação, autonomia e reforço da sociabilidade parecem intimamente conectados à prática de entrar frequentemente em rede pela internet.
Porque a mobilidade é um direito universal, e a imobilidade estrutural das metrópoles brasileiras é resultado de um modelo caótico de crescimento urbano produzido pela especulação imobiliária e pela corrupção municipal. E com um transporte a serviço da indústria do automóvel, cujas vendas o governo subsidia. Tempo de vida roubado e pelo qual, além de tudo, deve-se pagar. “Trocamos dez estádios por um hospital decente”. Sempre conectadas, conectadas em rede e enredadas na rua, mão na mão, tuítes a tuítes, post a post, imagem a imagem. Um mundo de virtualidade real e realidade multimodal. Basta de corrupção política e de pseudodemocracia.
O Pálido Ponto Azul
Toda agitação política, gritos de ódio e exaltação discursiva fazem parecer que o ser humano é o centro do universo e seus problemas são os maiores e que precisam ser ouvidos. Sabemos que não é bem assim.
O prestigiado cientista norte-americano Carl Sagan foi um dos grandes expoentes do século XX da ideia de que a sociedade humana é ínfima perto do tamanho do Universo. Esse conceito surgiu após a sonda espacial Voyager fotografar a Terra, durante uma missão especial, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância. A imagem, representada abaixo, mostra como o nosso planeta é quase nada comparado ao cosmos gigantesco – a Terra, na verdade, seria apenas um pálido ponto azul, como ficou conhecida a fotografia.
A seguir, veja vídeo sobre o ‘Pálido Ponto Azul‘:
Abaixo, você confere trecho da palestra de Sagan durante uma conferência em 1996:
“A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades infringidas pelos habitantes de um canto desse pixel, nos quase imperceptíveis habitantes de um outro canto, o quão frequentemente seus mal-entendidos, o quanto sua ânsia por se matarem, e o quão fervorosamente eles se odeiam. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em sua glória e triunfo, eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma fração de um ponto. Nossas atitudes, nossa imaginária autoimportância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, são desafiadas por esse pálido ponto de luz.
Nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há nenhum indicio de que a ajuda possa vir de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. A Terra é o único mundo conhecido até agora que sustenta vida. Não há lugar nenhum, pelo menos no futuro próximo, no qual nossa espécie possa migrar, visitar, talvez se estabelecer. Goste ou não, por enquanto, a terra é onde estamos estabelecidos.
Foi dito que a astronomia é uma experiência que traz humildade e constrói o caráter. Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos… O pálido ponto azul.”
Fonte: Youpix